Quando era pequena, minha filha sofria muito com bullying. Voltava pra casa todo dia chateada com alguma ofensa ou maldade. Era difícil pra ela, tão pequenina, lidar com os próprios sentimentos que eclodiam de raiva, impotência, frustração, vontade de revidar, injustiça, incompreensão. Medo.
Um dia, andando juntas até o metrô, a caminho da escola, falei: “Bia, vou te contar uma história que pode te ajudar a lidar com as provocações, quer ouvir?”. Ela fez que sim. Diz mais ou menos assim:
“Havia um sábio, que morava no alto de uma montanha, muito respeitado e amado em sua comunidade. Um dia chegou ao vilarejo um jovem samurai vestido com empáfia e vaidade. Ele anunciou em alto e bom tom: ‘Vou provar a todos vocês que este velho é não vale nada, está enganando vocês’. Subiu até o cume e exigiu uma audiência com o mestre ancião.
Pois não, disse o bom homem. E o jovem samurai começou a ofendê-lo. Xingou de todos os nomes horrorosos que conhecia, colocou em xeque sua honra, agrediu seus filhos. E o sábio lá, ouvindo impassível. Como não teve sucesso, o samurai foi embora e prometeu retornar no dia seguinte.
No raiar do dia, boa parte da população já estava de pé e a postos para assistir ao confronto. O sol dançou no céu sua apresentação magistral, e o jovem samurai lá, se esgoelando, veias saltadas no pescoço, quase sem voz. No terceiro dia, igual. E o mestre feito uma estátua de serenidade.
Derrotado, o forasteiro foi embora e nunca mais voltou. Logo o velho sábio foi cercado de curiosos e discípulos: “Mestre, mestre! Conte-nos como o senhor conseguiu suportar tamanha injúria e difamação sem revidar, se abalar ou irritar?”.
O velho respondeu com uma pergunta: “Quando alguém estende um presente a você, e você não aceita, com quem fica o presente?”.
Deixo aqui esta reflexão. E o convite para você fazer parte do Grupo da Fórmula do Recomeço, no Facebook, um espaço de acolhimento e escuta sem julgamento. Um superbeijo!